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Pesquisadores do LNCC e da Feevale, Rede Vírus, identificam coinfecção de pacientes por duas linhagens diferentes do novo Coronavírus
Publicado em: 28/01/2021,09:56
Amostras foram coletadas no Sul do Brasil e depositadas em bases internacionais, além de submetidas, por meio de um estudo, em um periódico científico.
Uma semana depois da Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstrar preocupação com as novas variantes da Covid-1 9, salientando a necessidade de fazer uma investigação meticulosa sobre possíveis impactos em vacinas, casos de reinfecções e coinfecções, pesquisadores apresentaram resultados de estudos de amostras coletadas no Rio Grande do Sul, onde foi possível a caracterização de cinco linhagens diferentes que estão circulando no estado, sendo uma nova, a princípio denominada VUI-NP13L, e dois casos de coinfecção. Os genomas sequenciados foram depositados em bases internacionais e o estudo submetido a um periódico científico.
O trabalho foi realizado pelo Laboratório de Bioinformática - Labinfo, do Laboratório Nacional de Computação Científica - LNCC, Petrópolis-RJ (unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações - MCTI), coordenado por Ana Tereza Vasconcelos, e pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale (Novo Hamburgo-RS), coordenado pelo professor Fernando Spilki. A iniciativa faz parte da RedeVírus MCTI, da qual participam os dois laboratórios.
O material genético foi coletado pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, que recebe espécimes clínicos de pacientes de 40 municípios do Rio Grande do Sul. A amostragem, realizada por funcionários de saúde dessas cidades, foi enviada ao Laboratório juntamente com informações dos pacientes, como idade, sexo, sinais clínicos e possível cantata com outros casos suspeitos ou confirmados. Para esses estudos, foram selecionadas 92 amostras de pacientes com faixa etária de 14 a 80 anos de idade, sendo 50% homens e 50% mulheres.
Posteriormente, as amostras foram enviadas ao LNCC para a realização do sequenciamento genético e análises de bioinformática. Usando ferramentas desenvolvidas pelo grupo do Labinfo, foi possível a caracterização das cinco linhagens diferentes que estão circulando no Rio Grande do Sul. Entre elas, a nova linhagem, denominada pelos pesquisadores como VUI-NP13L. Também foram identificados dois casos de coinfecção, quando há a presença de duas linhagens de vírus em um mesmo indivíduo.
Possibilidade de dispersão do vírus
Os estudos realizados com amostras do Rio Grande do Sul geram preocupação devido à possibilidade de dispersão do vírus para outros Estados e países vizinhos da América do Sul. A Região Metropolitana de Porto Alegre concentra o maior número de casos. Por isso, a análise do genoma ajuda a entender melhor a dinâmica, a estrutura populacional e as cadeias de transmissão locais do vírus. Os pesquisadores também estão conduzindo experimentos in vitro na nova linhagem encontrada no estado, incluindo isolamento viral e investigação sobre neutralização ou anticorpos presentes no soro de pacientes infectados e recuperados.
Foi possível ainda confirmar a disseminação generalizada da variante E484K na proteína S, que é a mesma mutação do novo Coronavírus identificada no Rio de Janeiro no mês passado. "Isso é preocupante, pois sabe-se que essa mutação pode estar associada a um escape de anticorpos formados contra outras linhagens do vírus. É mais uma evidência que essas novas linhagens podem causar problemas mesmo em pessoas que já tenham uma imunidade prévia contra o Sars-Cov-2", afirma Fernando Spilki.
Outro ponto importante foi a identificação da coinfecção, que é uma infecção simultânea por vírus com genomas distintos em um mesmo indivíduo, e que foi encontrada em dois casos clínicos ocorridos no final de novembro. A coinfecção com a variante E484K não havia sido descrita até o momento.
A preocupação é porque a mistura de genomas de diferentes vírus coinfectando o mesmo indivíduo. A chamada recombinação, é um dos fenômenos que está na base da evolução de novo Coronavírus. "Mas, apesar da coinfecção, os dois pacientes tiveram um quadro de Covid-19 de leve a moderado e se recuperaram sem a necessidade de hospitalização", comentam os pesquisadores, lembrando a importância de se estabelecer medidas de distanciamento social para conter a propagação de novas variantes, potencialmente mais transmissíveis.
Segundo a coordenadora do Labinfo do LNCC, Ana Tereza Vasconcelos, os dados servem de alertar as autoridades sanitárias que estudos sobre a dispersão do Sars-Cov-2 são extremamente importantes para a segurança de todos.