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Pós-graduação: sem doutores, cursos multidisciplinares miram conceito máximo - Notícias da ABC - 08 de fevereiro de 2008
Publicado em: 11/02/2008,00:00
Nenhum dos mais de cem programas da área multidisciplinar conseguiu ultrapassar a barreira da nota cinco -e só 18 obtiveram esse conceito. Para o Acadêmico Carlos Afonso Nobre, ex-representante do setor na Capes, os cursos precisam amadurecer e ter mais doutores. Metade deles surgiu nos últimos quatro anos e como reúnem diferentes departamentos, muitos professores não têm dedicação integral. Segundo o relatório dessa área, dois mereceriam nota seis: Modelagem Computacional do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), do Rio de Janeiro, e Política Científica e Tecnológica, da Unicamp. O comitê da Capes manteve a avaliação cinco. Para José Karam Filho, coordenador do curso do LNCC, a avaliação da Capes é ótima, uma vez que o curso foi criado há seis anos. Ele diz que, para manter e melhorar a nota, não serão necessárias mudanças drásticas de estrutura. O essencial, diz, é não mexer no corpo docente e na grade curricular. O LNCC também aposta em manter vínculos com outras instituições, permitindo troca constante de conhecimento. Por ter esse perfil, o mestrando Eduardo Krempser da Silva, 23 anos, salienta o benefício de unir estudantes de diferentes cursos - como Ciências da Computação, Química, Matemática e até mesmo Biologia. "Esse convívio, além do trabalho em conjunto nos grupos de pesquisa e durante as disciplinas, é extremamente válido para o desenvolvimento do trabalho." A coordenadora do programa de Política Científica e Tecnológica da Unicamp, Léa Maria Leme Strina Velho, questiona a nota cinco recebida. "Uma das razões apontadas na avaliação para esta nota é o número reduzido de artigos em revistas classificadas como A, que a Capes julga serem as mais importantes. No entanto, quais são os critérios para classificar uma publicação em uma área na qual avaliadores são de diferentes áreas?", indaga. O programa, porém, tem destaque no meio acadêmico. Um dos poucos cursos que pesquisam a questão da inovação tecnológica no continente, seu caráter multidisciplinar atrai profissionais de áreas distintas. As disciplinas oferecidas são de campos como Sociologia, Administração, Gestão Política, Antropologia e outras. Mas, conforme ressalta o doutorando André Tortatto Rauen, 27 anos, um dos problemas do curso é o excesso de trabalho dos docentes, que têm de orientar uma série de estudantes. "O corpo docente realmente é pequeno, está engessado, mas essa foi uma escolha da coordenação, pois não temos interesse em diminuir o número de estudantes", explica Velho. O número de cursos da área de multidisciplinares cresceu 45% de 2004 a 2006. Hoje são 145, e a maioria (54%) recebeu nota três - três foram descredenciados. "Essa é a área que mais cresce porque está havendo uma mudança no conhecimento. Ainda está muito desigual em termos de qualidade", pondera o diretor de avaliação da Capes, Renato Janine Ribeiro . Ele conta que há demanda de universidades para credenciar cursos principalmente nas áreas de Educação, Direito e Administração. "Mas essas áreas são muito rigorosas, o que acaba refletindo nos cursos multidisciplinares", comenta. "Muitas universidades pequenas decidiram unir departamentos e docentes com título de doutor para viabilizarem programas de graduação", explica o ex-representante da área, Carlos Nobre. Um dos campos em destaque foi o de agronegócios, uma das atividades da economia brasileira que mais cresceram nos últimos anos. Para acompanhar a tendência, universidades criaram pós nesse tema. Uma das mais novas é a da Universidade Federal de Goiás (UFG). Criado em 2006, o curso foi avaliado uma vez, por isso, segundo a coordenadora do mestrado Francis Lee Ribeiro , receber três era esperado. As disciplinas oferecidas pela UFG abarcam áreas da Economia, da Sociologia e da Administração. "O foco é estudar estratégias regionais para manter e ampliar a competitividade do agronegócio na região do Centro-Oeste e assegurar a devida atenção a questões de sustentabilidade ambiental e inclusão social", explica Ribeiro. Uma das dificuldades do programa da UFG é quanto ao número restrito de bolsas oferecidas aos estudantes pela Capes, porque um dos critérios para a distribuição é justamente a avaliação do curso. Além disso, segundo Ribeiro, o Estado ainda não conseguiu consolidar uma fundação estadual de apoio à pesquisa, algo que ocorre em São Paulo por meio da Fapesp. O mestrando André Grossi Machado, 27 anos, espera que esse curso seja mais divulgado nos próximos anos. "A troca de experiências entre colegas das mais variadas origens e situações, que lidam com problemáticas específicas do agronegócio de suas regiões, pode colaborar com a criação de alternativas mais eficientes para questões do agronegócio goiano e brasileiro." Segundo Nobre, os cursos descredenciados tinham problemas comuns. "Houve pouca produção científica e não têm sido formados mestres e doutores, em qualidade e em quantidade, que possam justificar a continuação da pós-graduação", sentencia. Um ponto negativo, segundo a Capes, foi a precária infra-estrutura. "Na avaliação de 2004, o descredenciamento do curso da federal de Alagoas havia sido indicado", diz Nobre. (Folha de S.Paulo , 27/1) Fonte: Notícias da ABC (Academia Brasileira de Ciência) Rita Juliano / Natália Aquino Assessoria de Comunicação LNCC - Laboratório Nacional de Computação Científca 24 22336039